quarta-feira, 26 de maio de 2010

SONETO DO EQUÍVOCO

Como se eu fosse este ar que atravessaste,
conservo em mim o rastro reticente
de linhas de água, fogo, asa e serpente,
composição de Deus erguida em haste.

Como se fosse o rio que cruzaste,
sonho uma barca de ouro transcendente,
que me navega tempestuosamente
com seus remos de música e contrasta.

Como se fosse o espelho em que te viste,
fende-se em minha sombra um cristal triste.
(Flores e ninhos buscam tua mão.)

Como se fosse o deus a quem amasses,
compreendo o fluido rosto de mil faces,
do alto leio a raiz no último chão.


Abgar Renault
Obra Poética – 1.990 –

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