quarta-feira, 26 de maio de 2010

ELEGIA II

Estou hoje o senhor de todas as tristezas:
presenças no olhar são-me ausências na alma,
as palavras não têm sentido ou não têm voz:
só vejo, respiro e escuto pálidas solidões,
desesperanças finais, longas lástimas apenas em começo,
e alongo-me de mim sem de todo
ausentar-me.
Já nada mais pode caber dentro das mãos sem desejo:
nem recolhem do chão esses fios partidos,
-desenrolados de tão longe-
em que se emaranham restos meus mortos e dos meus vivos...
Os lábios sorriem por engano,sem saber que sorriem.
A alma vacila,insone, velando fundas distâncias.
Não há mais lágrimas para chorar.
Os olhos envelheceram o dia,
e a noite caiu antes do tempo,
cheia de cinza e de silêncio
como o tempo.


Abgar Renault

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