quarta-feira, 26 de maio de 2010

DE NINGUÉM

São do olhar(de mais nada de ninguém)
a luva ardente e a rosa abandonadas;
a solidão dos braços com braçadas
de áspides, de papoulas e de além;

e, esquecida de quando, o que e quem,
a forma de sozinhas alvoradas,
com luzes para todas as estradas
e as mesmas bordas que o infinito tem.

Não terás, minha mão, a solta luva,
nem fecharei em mim a nua rosa;
dos braços sem abraços não verei

as curvas de ouro e de ouro em minha curva,
- e atiro mágoa e vida à boca ansiosa
cujo silêncio não conhecerei.


Abgar Renault
in Obra Poética

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