quarta-feira, 26 de maio de 2010

QUATRO VELAS

Era uma paisagem de fluidez de luz,
que abria a luz e nela recortava os seus contornos.
Eua vira uma vez, antes de vê-la,
como quem adivinha dentro da escuridão
uma presença ou ainda atrás do céu
a forma, a cor e o fogo de uma estrela,
e a reconhece toda quando raia.
Vi-a depois (em que mar? junto a que praia?)
e, buscando-a, navegaram uma água verde e lisa
as minhas quatro velas rubras e tontas ...

Fulgura uma só vez em cada mundo essa visão.
Não reaparecerá. E para que aparecer de novo ?
As órbitas vazias não saberão que já tiveram olhos,
a memória será vento e areia para que nada lembre
e, coberta de pedras, de musgos e de mofo,
a vida já terá enoitecido para sempre.


Abgar Renault
in Obra Poética

Nenhum comentário:

Postar um comentário