domingo, 2 de maio de 2010

Fresta

Em meus momentos escuros
Em que em mim não há ninguém,
E tudo é névoas e muros
Quanto a vida dá ou tem,

Se, um instante, erguendo a fronte
De onde em mim sou aterrado,
Vejo o longínquo horizonte
Cheio de sol posto ou nado

Revivo, existo, conheço,
E, ainda que seja ilusão
O exterior em que me esqueço,
Nada mais quero nem peço.
Entrego-lhe o coração.

Fernando Pessoa
In ‘Cancioneiro’ (1913)

Um comentário:

  1. Olá amiga, tudo bem? Eu também adoro este escritor. Receba meu carinho. Bjs.

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