Do Inferno, sempre volto com algo:
uma, sete, des-lembranças perdidas;escoriações em corpos e almas.
Do Inferno, sempre volto com algo:
aves ávidas de sangue, árvores torcidas;um alvoroço infinito de estrelas mortas.
Do Inferno, sempre volto com algo:
fauna e flora de um tempo sem história;aquela avalanche de palavras surdas.
Do Inferno, sempre volto com algo:
um infindo desespero-agonia desmedida;aquele sentir de nada mais querer ser.
Do Inferno, sempre volto com algo:
luxúria antevista em negro veludo infame;aquele de um carnaval de vísceras ardidas.
Do Inferno, sempre volto com algo:
olhos cheios da atávica angústia de outras vidas;daquelas aflitas de acaso e de ocaso plasmadas.
Do Inferno, sempre volto com algo:
mãos atadas a cravos vermelhos insones;aquelas razões plenas de medo e flores vis.
Do Inferno, sempre volto com algo:
coração apinhado de paisagens nada sutis;aquele oásis de palmas e cisternas secas.
Do Inferno, sempre volto com algo:
os pés continuam tortos e o corpo anoitece;naquele esvair-se que o quê resta da vida tece.
Quando volto, nem sempre é a alegria
que me aguarda ou abraça!Trago sempre visões enredadas à saudade:
àquela, mesclada à certeza de onde pertenço.
Jairo De Britto,
em 'Dunas de Marfim'
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