quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Adeus



        Como se houvesse uma tempestade
        escurecendo os teus cabelos,
        ou, se preferes, minha boca nos teus olhos
        carregada de flor e dos teus dedos;

        como se houvesse uma criança cega
        aos tropeções dentro de ti,
        eu falei em neve - e tu calavas
        a voz onde contigo me perdi.

        Como se a noite se viesse e te levasse,
        eu era só fome o que sentia;
        Digo-te adeus, como se não voltasse
        ao país onde teu corpo principia.

        Como se houvesse nuvens sobre nuvens
        e sobre as nuvens mar perfeito,
        ou, se preferes, a tua boca clara
        singrando largamente no meu peito.



Eugénio de Andrade

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