quinta-feira, 25 de novembro de 2010

FARRA DE CORES


A Primavera se avizinha:
raízes e letras
exigem sua hora e tempo.
Caminho pelo jardim.
Espinhos do alfabeto,
Azaléias da alma insone.
Caminho entre seixos.
Busco o perfeito aquário,
Onze-horas e algas
orientam os peixes.
Pedras, nuvens e letras noir.
Tudo anuncia a Primavera:
discreta, Almíscar, esperta.
Em torno dos homens
entorna suas flores, perfume,
brisa, maresia e malícia.
Palavras azuis sobre o mar.
Sobre o marfim, música,
frases, orquídeas raras.
II
A Primavera caminha anônima
como homens e mulheres na rua,
afoita com tantas luas.
A Primavera espraia
graça entre samambaias,
escala buganvílias, assanha roseiras.
Espio, solene, sapos e flores;
espreito folhagens, livros antigos.
Refaço e traço veredas,
espelho versos contra o sol.
Entre seios de nuas mulheres,
abrigo meus olhos úmidos:
Vermelhos antúrios
em fins de madrugada.
Calculo frações primas e veras;
pernas, seios, trepadeiras e lírios.
Estrelas avessas da manhã,
casuarinas de sonhos.

III
A Primavera se avizinha:
enlouquece românticos e céticos,
com sua farra de cores;
seu derrame de felicidade.

Jairo De Britto,
em "Dunas de Marfim"

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