quarta-feira, 27 de outubro de 2010
POEMA PARA UMA ROSA
Onde o nítido arco-íris
sumido em estradas neutras,
se tão longe fica o longe?
Era real despertada em cores,
é viva pintada em branco.
O vento em porto remoto
se perde entre o nunca e o sempre.
Vagueio a rotina do ar
na certeza sem contacto:
-quando o encontro cancelado,
bebido na enseada morta? –
Voltará, cortado o sono,
amanhecida na imagem.
Ando o Tempo e, já nas mãos,
afago a rosa ainda autêntica.
Colombo de Sousa
In: Estágio 1964
SONO
GLÓRIA
ANGÚSTIA
A FÁBULA DO POETA
O relógio ficou parado no ar!
Pisam o sono. Quem quer vê-lo? É o vento
que entra descalço, vem para apagar
a impressão digital do sofrimento.
Tão branco assim, ele concentra todo
frio da noite em cada cartilagem;
não! dêem-lhe um banho de manhãs e iodo
para que possa continuar a viagem.
De que ele agora é livre, ó Dor, convence-o!
não sente mais o peso do Infinito,
é todo som e pensamento – voando.
Seu corpo nu, molhado de silêncio,
deixou impresso na parede o grito;
a cabeça há de estar (no céu) cantando.
Colombo de Sousa
In: Estágio 1960
ESTERILIDADE
2. SONETO DA ESPERA INÚTIL
No outro lado de mim mora a criança,
neste lado onde estou é noite fria:
-lancei mão dos pincéis da fantasia
para tornar real minha esperança,
pintar meu ser com as cores da alegria;
então achei a minha semelhança
no menino que fui, não na lembrança
do mundo que perdi e onde vivia.
Se o sonho andei, cruzei meu labirinto
na modelagem abstrata do poema,
virgens manhãs bebi no extinto lago;
e a dor que não senti agora sinto
na amarga solidão, no amargo tema
em que ontem naveguei e hoje naufrago.
Colombo de Sousa
In: Antologia Poética
1. SONETO DA ESPERA INÚTIL
O menino de outrora, renascido
em mim e no que sou, tornou-se o estranho
que se perdeu no fundo do tamanho,
que emudeceu no oráculo esquecido;
tal o destino que eu achei no olvido:
-rios de lua onde a brincar me banho,
onde há um pastor que tange seu rebanho
de nuvens, em meu sonho interrompido.
Sempre distante do que fui, carrego
o inferno e o céu dos íntimos momentos,
tateando pelo mundo igual a um cego.
E assim, se ao meu destino me abandono,
flutuo a noite imemorial dos ventos
-noite embriagada em caminhos de sono.
Colombo de Sousa
In: Antologia Poética
PARÁBOLA
MELANCOLIA
O ANÚNCIO DO POEMA
A minha dor além de mim me espera,
emboscada na curva do caminho;
tem encantos de rosa, sendo o espinho
que meu corpo e minh’alma dilacera;
talvez quando chegar a primavera
a dor invente o amor, pinte um carinho,
transformando o refúgio onde me aninho
no castelo encantado da quimera;
e a dor navega o mar onde navego
por terra e gente, madrugada e noite,
sempre comigo; a minha dor carrego
para animar o mundo que componho
e ver liberto do alçapão da noite
(já feito poema) o pássaro do sonho.
Colombo de Sousa
In: Antologia Poética
CREPÚSCULO
ARGUMENTO INICIAL
A Verdade existe. Como encontrá-la?
No gesto azul das flores? – Entretanto,
a flor é a alma que perdeu o encanto
e dorme. Só o amor há de acordá-la.
Por que a Verdade não se diz no canto
do pássaro? – Ninguém lhe entende a fala;
se ela se desse a quem tenta alcançá-la,
seria um corpo que despiu o manto,
não a Verdade há tanto desejada.
Seu gesto incontrolável, todavia,
começa em nós e está no outro hemisfério,
no fundo da manhã carbonizada.
Tudo em vão. Nenhum “sézamo” abriria
as portas imantadas do mistério.
Colombo de Sousa
In: Estágio 1960
FUGA
SONETO
Era preciso que um de nós partisse,
pois nosso amor perdeu o encanto, a graça;
talvez, se morto está, nunca renasça,
nem nunca mais te diga o que te disse.
Ébrios de amor, esgotamos a taça,
sem crer que tanto amor se consumisse.
E como, enfim, mais nada nos unisse,
desmanchou-se o castelo de fumaça.
Depois o adeus – tão rápido, indeciso –
deu-me a impressão de termos sido expulsos
do encantado jardim do Paraíso. . .
Foste, eu fiquei. E aqui, ainda desejo
aos grilhões desse amor prender meus pulsos,
beijar de novo teu primeiro beijo.
Colombo de Sousa
In: Estágio 1964
terça-feira, 26 de outubro de 2010
DELÍRIO
DESTINO
Tem este amor, por ser grande e profundo,
tanto de eterno quanto de infinito.
-Como surgiu? – Não sei. Estava escrito
que nos encontraríamos no mundo.
Tão logo apareceu em meu caminho,
senti em seu olhar meu endereço;
e, ao vê-la, perguntei: - de onde a conheço?
-“Sou a que veio para o seu carinho.”
Daí crer que assistia, deslumbrado,
ao despertar da Bela Adormecida. . .
Agora vivo em êxtase engolfado.
Mas, se acaso algum dia separar-nos,
seremos infelizes toda a vida,
passaremos a vida a procurar-nos.
Colombo de Sousa
In: Estágio 1964
'Alegoria do Dia e da Noite'
São dois cavalos de variado porte,
Cavalgando-os por sonhos, pesadelos,
Descubro o colorido de seus pêlos,
Atento aos pontos cardeais da morte.
Talvez ao branco, ao preto me reporte,
Levam-me (sem ouvir os meus apelos)
Aonde não sei. Quem poderá detê-los?
Assim talvez à ilha do sonho aporte.
Soam os dois quais músicas em dueto
E, ao vê-los, minhas lágrimas estanco,
Atos do herói que antes não fui – cometo,
Poemas de amor do coração arranco.
– Sou noite e morte no cavalo preto,
Sou dia e vida no cavalo branco.
Colombo de Souza
in Antologia Poética
(1.973)
Cavalgando-os por sonhos, pesadelos,
Descubro o colorido de seus pêlos,
Atento aos pontos cardeais da morte.
Talvez ao branco, ao preto me reporte,
Levam-me (sem ouvir os meus apelos)
Aonde não sei. Quem poderá detê-los?
Assim talvez à ilha do sonho aporte.
Soam os dois quais músicas em dueto
E, ao vê-los, minhas lágrimas estanco,
Atos do herói que antes não fui – cometo,
Poemas de amor do coração arranco.
– Sou noite e morte no cavalo preto,
Sou dia e vida no cavalo branco.
Colombo de Souza
in Antologia Poética
(1.973)
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
O CAIS
Naquele nevoeiro
Profundo profundo...
Amigo ou amiga,
Quem é que me espera?
Quem é que me espera,
Que ainda me ama,
Parado na beira
Do cais do Outro Mundo?
Amigo ou amiga
Que olhe tão fundo
Tão fundo em meus olhos
E nada me diga...
Que rosto esquecido...
Ou radiante face
Puro sorriso
De algum novo amor?!
Mario Quintana
In Nariz de vidro
O cágado
Morava no fundo do poço.
E nunca saiu do poço.
Costumava tormar sol numa saliência da parede,
quando a água chegava até ali.
Nas raras vezes que isto sucedia, ficávamos a olhá-lo
impressionados, como se estivéssemos diante do
Homen da Máscara de Ferro.
Que vida!
Era o único bicho da casa que não sabia os nossos
nomes, nem das mudanças de cozinheiras, nem o
dia dos anos de Lili.
Não sabia nem queria saber.
Mario Quintana
In 'Sapato Florido' (1948])
Porto Parado
LUNAR
As casas cerraram seus milhares de pálpebras.
As ruas pouco a pouco deixaram de andar.
Só a lua multiplicou-se em todos os poços e poças.
Tudo está sob a encantação lunar...
E que importa se uns nossos artefactos
lá conseguiram afinal chegar?
Fiquem armando os sábios seus bodoques:
a própria lua tem sua usina de luar ...
E mesmo o cão que está ladrando agora
é mais humano do que todas as máquinas.
Sinto-me artificial com esta esferográfica.
Não tanto...Alguém me há de ler com um meio sorriso
cúmplice... Deixo pena e papel...E, num feitiço antigo,
à luz da lua inteiramente me luarizo...
Mario Quintana
In 'Apontamentos de História Sobrenatural'
Ah! Os Relógios
Amigos, não consultem os relógios
quando um dia eu me for de vossas vidas
em seus fúteis problemas tão perdidas
que até parecem mais uns necrológios...
Porque o tempo é uma invenção da morte:
não o conhece a vida - a verdadeira -
em que basta um momento de poesia
para nos dar a eternidade inteira.
Inteira, sim, porque essa vida eterna
somente por si mesma é dividida:
não cabe, a cada qual, uma porção.
E os Anjos entreolham-se espantados
quando alguém - ao voltar a si da vida -
acaso lhes indaga que horas são...
Mario Quintana
In A Cor do Invisível
Os parceiros
Sonhar é acordar-se para dentro:
de súbito me vejo em pleno sonho
e no jogo em que todo me concentro
mais uma carta sobre a mesa ponho.
Mais outra! É o jogo atroz do Tudo ou Nada!
E quase que escurece a chama triste...
E, a cada parada uma pancada,
o coração, exausto, ainda insiste.
Insiste em quê?Ganhar o quê? De quem?
O meu parceiro...eu vejo que ele tem
um riso silencioso a desenhar-se
numa velha caveira carcomida.
Mas eu bem sei que a morte é seu disfarce...
Como também disfarce é a minha vida!
Mario Quintana
In Apontamentos de História Sobrenatural
Este Quarto...
Este quarto de enfermo, tão deserto
de tudo, pois nem livros eu já leio
e a própria vida eu a deixei no meio
como um romance que ficasse aberto...
que me importa esse quarto, em que desperto
como se despertasse em quarto alheio?
Eu olho é o céu! imensamente perto,
o céu que me descansa como um seio.
Pois o céu é que está perto, sim,
tão perto e tão amigo que parece
um grande olhar azul pousado em mim.
A morte deveria ser assim:
um céu que pouco a pouco anoitecesse
e a gente nem soubesse que era o fim...
Mario Quintana
In Apontamentos de História Sobrenatural
O baú
Como estranhas lembranças de outras vidas,
que outros viveram, num estranho mundo,
quantas coisas perdidas e esquecidas
no teu baú de espantos... Bem no fundo,
uma boneca toda estraçalhada!
(isto não são brinquedos de menino...
alguma coisa deve estar errada)
mas o teu coração em destino
te traz de súbito uma idéia louca:
é ela sim! Só pode ser aquela,
a jamais esquecida Bem-amada.
E em vão tentas o nome dela...
e em vão ele te fita ... e a sua boca
tenta sorrir-te mas está quebrada!
Mario Quintana
In Nariz de Vidro
Passarinho Empalhado
Canção de Garoa
Quando eu morrer
Quando eu morrer e no frescor de lua
Da casa nova me quedar a sós,
Deixai-me em paz na minha quieta rua...
Nada mais quero com nenhum de vós!
Quero ficar com alguns poemas tortos
Que andei tentando endireitar em vão...
Que lindo a Eternidade, amigos mortos,
Para as torturas lentas da Expressão!...
Eu levarei comigo as madrugadas,
Pôr de sóis, algum luar, asas em bando,
Mais o rir das primeiras namoradas...
E um dia a morte há de fitar com espanto
Os fios de vida que eu urdi, cantando,
Na orla negra do seu negro manto...
Mario Quintana
In Os Melhores Poemas
Silêncio. Solidão. Serenidade.
"Quero morrer na selva de um país distante...
Quero morrer sozinho como um bicho!
Adeus, Cidade Maldita,
Que lá se vai o seu poeta.
Adeus para sempre, Amigos...
Vou sepultar-me no céu!
E todos estes que aí estão
Atravancando meu caminho,
Eles passarão...
Eu passarinho!"
Mario Quintana
Esconderijos do Tempo - 1980
Bilhete
Seiscentos e sessenta e seis
A vida é uns deveres , que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas: há tempo...
Quando se vê, já é sexta-feira...
Quando se vê, passaram 60 anos!
agora, é tarde demais para ser reprovado...
E se me dessem - um dia - uma outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio
seguia sempre em frente...
E iria jogando pelo caminho a casca
dourada e inútil das horas.
Mario Quintana
In Nariz de vidro
O Tempo
O despertador é um objeto objeto.
Nele mora o Tempo. O tempo não pode viver sem
nós, para não parar.
E todas as manhãs nos chama freneticamente como
um velho paralítico a tocar a campainha atroz.
Nós
É que vamos empurrando, dia a dia, sua cadeira de rodas.
Nós, os seus escravos.
Só os poetas
os amantes
os bêbados
podem fugir
por instantes
ao Velho... Mas que raiva dá no Velho quando
encontra criança a brincar de roda
e não há outro jeito senão desviar delas a sua
cadeira de rodas!
Porque elas, simplesmente, o ignoram...
Mario Quintana
In Mestres da Literatura
Oração
Dá-me a alegria
Do poema de cada dia.
E que ao longo do caminho
Às almas eu distribua
Minha porção de poesia
Sem que ela diminua...
Poesia tanta e tão minha
Que por uma eucaristia
Poesia eu fazê-la sua
"Eis minha carne e meu sangue!"
A minha carne e meu sangue
Em toda a ardente impureza
Deste humano coração...
Mas, ó Coração Divino,
Deixai-me dar de meu vinho,
Deixai-me dar de meu pão!
Que mal faz uma canção?
Basta que tenha beleza...
Mario Quintana
In A Cor do invisível
Entre-Sono
A manhã se debruça ao peitoril,
Não sei por que está gritando: abril, abril!
Há, por vezes, manhãs que são sempre de abril...
A manhã, com todas as suas árvores ao vento,
Traz-me as primeiras notícias da frota do Descobrimento,
Sem reparar na presença dos arranha-céus.
Mas eu nem abro os olhos: vou dormir...
Creio que ainda chegarei a tempo
Para a Primeira Missa no Brasil.
Mario Quintana
Canção de muito longe
O poeta começa o dia
Pela janela atiro meus sapatos, meu ouro, minha alma ao meio da rua.
Como Harum-al-Raschid, eu saio incógnito, feliz de desperdício...
Me espera o ônibus, o horário, a morte - que importa?
Eu sei me teleportar: estou agora
Em um Mercado Estelar... E olha!
Acabo de trocar
- em meio aos ruídos da rua
alheio aos risos da rua -
todas as jubas do Sol
por uma trança da Lua!
Mario Quintana
Canção da Noite Alta
Menina está dormindo.
Coração bolindo.
Mãe, por que não fechaste a janela?
É tarde, agora:
Pé ante pé
Vem vindo
O Cavaleiro do Luar.
Na sua fronte de prata
A lua se retrata.
No seu peito
Bate um coração perfeito.
No seu coração
Dorme um leão,
Dorme um leão com uma rosa na boca.
E o príncipe ergue o punhal no ar:
. . . um grito
aflito. . .
Louca!
Mário Quintana
In: Canções
Canção Azul
Triste, Poeta, triste a florinha azul que sem querer
Pisaste no teu caminho. . .
Miosótis, - disseste, inclinado um instante sobre ela.
E ela acabou de morrer, aos poucos, dentre a relva úmida.
Sem nunca ter sabido que se chamava miosótis.
Nem que iria impregnar, com o seu triste encanto,
O teu poema daquele dia. . .
Mário Quintana
In: Canções
Canção de um Dia de Vento
Para Maurício Rosenblatt
O vento vinha ventando
Pelas cortinas de tule.
As mãos da menina morta
Estão varadas de luz.
No colo, juntos, refulgem
Coração, âncora e cruz.
Nunca a água foi tão pura. . .
Quem a teria abençoado?
Nunca o pão de cada dia
Teve um gosto mais sagrado.
E o vento vinha ventando
Pelas cortinas de tule. . .
Menos um lugar na mesa,
Mais um nome na oração,
Da que consigo levara
Cruz, âncora e coração
(E o vento vinha ventando. . .)
Daquela de cujas penas
Só os anjos saberão!
Mário Quintana
In: Canções
A Canção que Não Foi Escrita
Canção de Vidro
Canção da Primavera
Para Erico Veríssimo
Primavera cruza o rio
Cruza o sonho que tu sonhas.
Na cidade adormecida
Primavera vem chegando.
Catavento enlouqueceu,
Ficou girando, girando.
Em torno do catavento
Dancemos todos em bando.
Dancemos todos, dancemos,
Amadas, Mortos, Amigos,
Dancemos todos até
Não mais saber-se o motivo. . .
Até que as paineiras tenham
Por sobre os muros florido!
Mário Quintana
In: Canções
NOTURNO CITADINO
POEMA EM TRÊS MOVIMENTOS
I
Nossos gestos eram simples e transcendentais.
Não dissemos nada
nada de mais...
Mas a tarde ficou transfigurada
-como se Deus houvesse mudado
imperceptivelmente
um invisível cenário.
II
Eu te amo tanto que
sou capaz de nos atirarmos os dois na cratera do Fuji-Yama!
Mas, aqui,
o amor é um barato romance pornô esquecido em cima da cama
depois que cada um partiu – sem saionara nem nada –
por uma porta diferente.
III
E em que mundo? em que outro mundo vim parar,
que nada reconheço?
Agora, a tua voz nas minhas veias corre...
o teu olhar imensamente verde ilumina o meu quarto.
Mário Quintana
In: Esconderijos do Tempo
EU FIZ UM POEMA
Eu fiz um poema belo
e alto
como um girassol de Van Gohg
como um copo de chope sobre o mármore
de um bar
que um raio de sol atravessa
eu fiz um poema belo como um vitral
claro como um adro...
Agora
não sei que chuva o escorreu
suas palavras estão apagadas
alheias uma à outra como as palavras de um dicionário.
Eu sou como um arqueólogo decifrando as cinzas de uma
cidade morta.
Ou vulto de um velho arqueólogo curvado sobre a terra...
Em que estrela, amor, o teu riso estará cantando?
Mário Quintana
In: Esconderijos do Tempo
A CANÇÃO DO MAR
Esse embalo das ondas
Das ondas do mar
Não é um embalo
Para te ninar...
O mar é embalado
Pelos afogados!
O canto do vento
Do vento no mar
Não é um canto
Para te ninar...
São eles que tentam
Que tentam falar!
Tiveram um nome
Tiveram um corpo
Agora são vozes
Do fundo do mar...
Um dia viremos
Vestidos de algas
Os olhos mais verdes
Que as ondas amargas
Um dia viremos
Com barcos e remos
Um dia...
Dorme, filhinha...
São vozes, são vento, são nada...
Mário Quintana
In: Esconderijos do Tempo
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