terça-feira, 27 de abril de 2010

ELEGIA DO SILÊNCIO

Silêncio, voz sem fim das coisas mudas,
Do coração que eu tenho e Deus me deu.
Voz do luar morrendo sobre as ondas,
Das árvores que se erguem para o céu.

Silêncio, cinza que foi chama ardente,
Foi oração, foi canto de alegria;
Voz da vida que finda lentamente,
Da morte que em silêncio principia.

Voz de tudo o que existe e não tem fala,
Voz do incenso que sobe em oração,
Como o doce perfume que se exala
Das rosas esfolhadas pelo chão ...

Voz das lágrimas mudas, voz do pranto
Nas faces magoadas pela dor.
Voz do dia ao morrer cheio de encanto,
Na agonia da luz, desfeito em cor.

Voz oculta de tudo quanto existe,
Voz dos mundos cruzando-se nos céus;
Voz da alma que eu sinto e que é tão triste,
Silêncio, voz de Além, a voz de Deus ...


Anrique Paço D’Arcos
in Poesias Completas

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