terça-feira, 27 de abril de 2010

DESCRENÇA

Trago em meus frios lábios a tristeza
Da fonte que a cantar emudeceu;
A voz que outrora se elevava ao céu
Nos meus lábios murchou e já não reza.

Ai daquele que um dia em fé acesa
A Deus a alma entristecida ergueu,
E, descrente bem cedo, se perdeu
Na mais cruel e trágica incerteza!

Nos meus olhos as lágrimas secaram,
Nos meus lábios as rezas se calaram ...
Ó meu deserto olhar, lábios desertos!

Para que, para que tanta amargura,
Se não tem eco a voz que em mim murmura,
Nem água estes meus olhos sempre abertos?


Anrique Paço D’Arcos
in Poesias Completas

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