quinta-feira, 25 de novembro de 2010

IMPASSE URBANO



O semáforo
irrita
a rua
que ri
de si
dó maior.

Jairo De Britto,
em "Dunas de Marfim"

O SOM DAS ÁGUAS DOCES



Fazer feito o fiel verdureiro:
equilibrar nos ombros largos
dois cestos; ambulante resoluto -
presença diária no pequeno mundo
da enorme fome dos homens simples.

Conferir, compete ao aventureiro:
cada conta pendurar no avental
de quantos aventam saltar,
de inteiro corpo, na tempestade
da afoita vida dos homens simples.

Atentar, cabe àqueles que expiam
tantas perdas; que sonham oceanos
de inéditos pecados ao pé do altar.
Do profano ao sagrado, cabe àqueles
espionar a fantasia dos homens simples.

Avançar, confere venturas a quantos,
atrevidos, gravam nos seixos dos rios
o inominável, o índigo, o quieto Quasar,
e o som dos espíritos das águas doces -
que banha a vida dos homens simples.


Jairo De Britto,
em “Dunas de Marfim”

ROSA ENLUARADA


A rosa vermelha,
fresca e orvalhada,
sobre o teclado frio,
inerte, pousada
diz mais que muito.
A rosa vermelha,
tenra e molhada,
sobre o teclado cria
e verte o dito quieto.
A rosa vermelha,
infante e felina,
sobre o teclado ousa
dizer mais que muito.
A rosa vermelha,
invade meus olhos.
Nada teme: inteira sua;
é lua nua em íntimo culto.

Jairo De Britto,
em "Dunas de Marfim"

'TEMPO IMEDIATO'



O Tempo é tema
ingrato, teclas de sono
sobre células ávidas:
Tapete perene
sob meus pés de sonho.
O Tempo cobre
de penas e alegrias
minhas tantas noites:
Confere novas cores
a meus dias di-versos.
O Tempo sofre
aparas, afere augúrios,
distribui o terror inédito:
Insólito e voraz,
ele cobra meus anos.
O Tempo enorme,
às vezes cálido e audaz,
abriga amor e medo:
Descobre self, sonhos
e faces que aflito exponho.

Jairo De Britto,
In Dunas de Marfim

IDA & VOLTA


(Abstracto)
Do Inferno, sempre volto com algo:
uma, sete, des-lembranças perdidas;
escoriações em corpos e almas.
Do Inferno, sempre volto com algo:
aves ávidas de sangue, árvores torcidas;
um alvoroço infinito de estrelas mortas.
Do Inferno, sempre volto com algo:
fauna e flora de um tempo sem história;
aquela avalanche de palavras surdas.
Do Inferno, sempre volto com algo:
um infindo desespero-agonia desmedida;
aquele sentir de nada mais querer ser.
Do Inferno, sempre volto com algo:
luxúria antevista em negro veludo infame;
aquele de um carnaval de vísceras ardidas.
Do Inferno, sempre volto com algo:
olhos cheios da atávica angústia de outras vidas;
daquelas aflitas de acaso e de ocaso plasmadas.
Do Inferno, sempre volto com algo:
mãos atadas a cravos vermelhos insones;
aquelas razões plenas de medo e flores vis.
Do Inferno, sempre volto com algo:
coração apinhado de paisagens nada sutis;
aquele oásis de palmas e cisternas secas.
Do Inferno, sempre volto com algo:
os pés continuam tortos e o corpo anoitece;
naquele esvair-se que o quê resta da vida tece.
Quando volto, nem sempre é a alegria
que me aguarda ou abraça!
Trago sempre visões enredadas à saudade:
àquela, mesclada à certeza de onde pertenço.

Jairo De Britto,
em 'Dunas de Marfim'

INTENÇÕES DIVINAS


Os deuses criaram madrugadas estreitas
para que bêbados, pássaros e poetas
repousassem seus lábios e penas,
após dias de pura, inútil tempestade.
Os deuses criaram noites inteiras
para que putas, políticos e poetas
afiassem suas unhas, artimanhas e gemas,
após dias de enferma, escusa voragem.
Os deuses criaram manhãs de algazarra plenas
para que aves e animais, todos e tontos,
derramassem suas cestas de teses e fatos
na távola insone de cada um de seus mundos.
As tardes, inteiras e extremas, os deuses
reservaram para que os homens descalços,
de boa ou má vontade, sóbrios ou falsos,
revelassem seus cantos primos; seus atos maduros.

Jairo De Britto,
em "Dunas de Marfim"

SUPOSIÇÕES

I
Suponha que não sei
como a conheço.
Talvez assim
meus olhos amanheçam.
II
Suponha que não sei
do lado avesso.
Talvez assim
minhas mãos o reconheçam.
III
Suponha que não sei
o exato endereço.
Talvez assim
meus ouvidos o traduzam.
IV
Suponha que não sei
o claro caminho.
Talvez assim
minhas pernas me conduzam.
V
Suponha que não sei
do bravo carinho.
Talvez assim
minha boca o descubra em canto.
VI
Suponha que não sei
quando ou como atravessar o rio.
Talvez assim
aprenda a nadar enquanto.
VII
Suponha que nada sei
do amor, viver ou ser.
Talvez assim
meus pés me levem até você.

Jairo De Britto,
em "Dunas de Marfim"

GOSTO DA LÍNGUA


Aquilo que ignoro,
alardeio.
Para mais poder
aprender.
Aquilo que ignoro,
alardeio.
Para melhor poder
apreender.
Aquilo que ignoro,
alardeio.
Para mais poder
saber.
Aquilo que ignoro,
escancaro.
Para, na ponta da língua,
avaro sabor todo sentir.

Jairo De Britto,
em "Dunas de Marfim"

RESSONÂNCIA

Fico a ouvir cada som,
infindo ou fundo,
que me acata ou alcança.
Desconfio, mais e mais,
de cada um. Sem travas,
transam sem fim...

Jairo De Britto,
em "Dunas de Marfim"

PRINCÍPIO REVERSO


Toda estória tem dois lados,
como a moeda da própria história.
Como o dia e a noite,
como o gelo e o fogo:
verão, inverno, céu e inferno.
Toda memória tem dois fados,
como a beleza e a falácia da glória.
Como o imóvel e o veloz,
como o crédulo e o néscio:
lume, escuro, verão e inverno.
Toda história tem dois fardos,
como a sacola e o silêncio do viajante.
Como a tristeza e a grandeza do nascer,
como a pura luz e o tempo voraz:
espaço, sal, sangue
e o infinito terror do viver.

- Jairo De Britto -

'VERDADE DE BRINQUEDO'


A minha verdade
é o Atlântico Amadeus Oceano:
uma saudade tão simples
que não alcanço ou espanto.
A minha verdade
é Flora pura, verbo Purim:
inteira Jazz; Moura
Paulo, Leonardo - princípio e fim.
A minha verdade
é feita de prima Vera: uma Itália
nortista, único Moai em Santiago;
esmeraldas na Serra da Mantiqueira.
A minha verdade
é tão infame quanto Rimbaud:
um espantalho, um alaúde,
"O Novo Arrabalde": Vitória desnuda.

Jairo de Britto

MOVIMENTOS


Desdobrar-se,
descobrir-se.
Levantar o tapete do Tempo:
espiar e expiar-se!

Jairo de Britto,
em "Dunas de Marfim"

FARRA DE CORES


A Primavera se avizinha:
raízes e letras
exigem sua hora e tempo.
Caminho pelo jardim.
Espinhos do alfabeto,
Azaléias da alma insone.
Caminho entre seixos.
Busco o perfeito aquário,
Onze-horas e algas
orientam os peixes.
Pedras, nuvens e letras noir.
Tudo anuncia a Primavera:
discreta, Almíscar, esperta.
Em torno dos homens
entorna suas flores, perfume,
brisa, maresia e malícia.
Palavras azuis sobre o mar.
Sobre o marfim, música,
frases, orquídeas raras.
II
A Primavera caminha anônima
como homens e mulheres na rua,
afoita com tantas luas.
A Primavera espraia
graça entre samambaias,
escala buganvílias, assanha roseiras.
Espio, solene, sapos e flores;
espreito folhagens, livros antigos.
Refaço e traço veredas,
espelho versos contra o sol.
Entre seios de nuas mulheres,
abrigo meus olhos úmidos:
Vermelhos antúrios
em fins de madrugada.
Calculo frações primas e veras;
pernas, seios, trepadeiras e lírios.
Estrelas avessas da manhã,
casuarinas de sonhos.

III
A Primavera se avizinha:
enlouquece românticos e céticos,
com sua farra de cores;
seu derrame de felicidade.

Jairo De Britto,
em "Dunas de Marfim"

CIGANOS NA GIRA


Cartas, braceletes de prata,
com planos de fundo reais.
Carros e igrejas,
com vitrais a prumo,
desenham meus dias
de abismos desertos.
Cartas, argolas de ouro,
cavalos com adornos de cobre.
Carros e tendas, com fitas
e velas de cores tantas,
povoam minhas noites
de ciganos despertos.
Cartas, cordas e colares,
com anos e aros de contas azuis,
habitam minhas noites
de sonoras fogueiras.
Cofres e arcas, moedas,
arco-íris e sonhos,
refletem meus pares
de planos diversos.

Jairo De Britto

JAIRO DE BRITTO

JAIRO DE BRITTO

 Filho de mãe pernambucana e pai carioca, nasceu em Vitória (ES) em 1952. É jornalista há 35 anos. Foi aluno dos cursos de Letras, da Universidade Federal do Espírito (Ufes), e Psicologia da Universidade "São Judas Tadeu" (USJT), em São Paulo. Fez vários cursos breves, sobre editoração e áreas afins, na Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), e de extensão na University of California at Los Angeles (UCLA). Na década de 70, foi professor de Inglês e Português para Estrangeiros em institutos de línguas.

Desde 1970, publica poemas, crônicas e contos em jornais, suplementos literários e revistas de vários Estados. Seus poemas estão em antologias lançadas no ES, Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. Em Vitória lançou, em 1978, a revista "Sim", pioneira na veiculação exclusiva de Poesia e Ficção em seu Estado. Foi um dos fundadores e primeiro presidente da Associação Capixaba Escritores. Integrou a equipe responsável pela implantação da TV Educativa no ES, como produtor e apresentador.
Os poemas constantes desta antologia, que ele dedica à memória dos seus pais, Claudionor de Britto e Natalina Morais, e aos seus filhos Arthur Ruy de Britto e Leonardo Ramon de Britto, são do livro inédito "Dunas de Marfim".

Olhar de infância


Penetrei pela enorme profundeza
Deste mar colorido de teus olhos
Triste azul. Melancólica tristeza.
Penedo transformado sem escolhos.

Penetrei. Nadador por ter andado.
Suicida solitário. O mar azul
Logo cobriu-me num estranho fado
Quem em vez do Norte, descobriu o Sul.

Azul dentro do azul. A maresia
Marítimos escombros desvendava
E os sonhos que eu fazia, desfazia,
Desfazendo um abismo à idéia escrava.

Afoguei-me no fundo da distância
De um olhar, que busquei por minha infância.

Ives Gandra

Orfeu


Nenhuma estrela havia, em seu olhar.
Um silêncio noturno mal rondava
O muro esmuguecido do pomar,
Cujo fruto sua alma alimentava.

À noite era, porém, linda e presente,
Coberta a lua por escura fronha,
Era a noite do tempo inexistente,
A noite, que consola o mal, que sonha.

Mesmo assim cobrava-se de morte.
Um olhar negro é duplo e, se empoçado
Em funda sensação, encerra a sorte
De um outro olhar no olhar cio próprio fado.

Nenhuma estrela havia. Havia Orfeu,
Lembrando-se da amada que morreu.


Ives Gandra

Pelo caminho de teus olhos


O recesso intocável de tua alma
Invadi, repentina e mudamente,
Através de momento, cuja palma
Cruzou pelos teus olhos, diferente.

A profundez longínqua foi semente
Do sucesso, que trouxe após a calma,
E a conquista desfeita, docemente,
Conquistou o senhor, que hoje te ensalma

Do assalto não mais resta que o caminho,
Onde, silente, entrei, despercebido,
Cuidando retirar—me, por inteiro.

Perdi-me, todavia, e não sozinho
Retornei, muito estranho e sem sentido,
De teu recesso eterno prisioneiro.


Ives Gandra

Soneto de vida interior


Senhor, põe-me, outra vez, à Tua frente
E faze-me encontrar o Teu caminho.
Perdido fui e sou, se de repente
Somente a mim me entregas e sozinho.

Quantas vezes me sinto diferente
E volto a ser, no tempo, descaminho!
Quantas vezes Te fito e sou descrente
E, no espaço, me faço agreste espinho!

Senhor, mostra-me sempre o Teu amor,
Qual tesouro enterrado num terreno,
Valendo mais que todos, pois que é vida.

E faze-me Teu filho no que for
A vivência daquele tom sereno,
Que me leva à chegada da partida.

Ives Gandra

Teu silêncio


O Teu silêncio busco desvendar,
Nas névoas de uma estrada, que não trilho,
Sendo aquele que tem cansado o olhar
E que luta por ser chamado filho.

O Teu silêncio é forte e muito fraca
A força que projeto na procura,
Alicerce desfeito sem estaca,
Luz apagada em plena noite escura.

O Teu silêncio vive em minha vida,
Cujo curso reduz o seu caminho,
Mas ando sempre e sinto esta ferida
Que a rosa nunca faz, mas faz o espinho.

O Teu silêncio eu sei, porém, um dia.
Será descortinado e a minha via.


Ives Gandra

CICATRIZES DO TEMPO


Cicatrizes do tempo formam rugas,
Desfigurando seres pela vida.
Por mais que se vislumbrem novas fugas,
Haverá sempre o dia da partida.

As almas, muitas vezes, ficam nuas,
Descortinando assim tais cicatrizes,
Contorcidas nos troncos e nas ruas
Dos abismos sem fim e sem matrizes.

Não se limpam da pele as rudes marcas,
Mas podem se limpar tatuagens d’alma,
Tornando as tristes nódoas, nódoas parcas,
Na busca da verdade, eterna e calma.

Quem luta, na existência, por ser forte,
Liberdade terá na sua morte.

Jaguariúna, 20/11/08.
Ives Gandra

A Primavera eterna


A pátena do tempo é mais intensa,
Cobrindo o temporal e o intemporal,
Com um toque que o sonho não dispensa,
Como o mar que na praia põe o sal.

Não há no nosso amor porém as rugas,
Nem corre em nossas veias o cansaço,
Como em Bach os prelúdios geram fugas,
Sorvemos este bem em todo o espaço.

Desde cedo dedico-te, meu verso,
com a mesma imensidade, todos anos,
Tu és, posso dizer-te, um Universo,
Onde imperas com ares soberanos.


Amor de meu amor, amor eterno,
Que sempre em primavera torna o inverno.


Rio, 08/04/2008.
Ives Gandra
i

COMPASSO DERRADEIRO


No compasso do tempo gero teias,
Que se emaranham em torno de meu mundo,
Neste relógio feito por areias,
Endereçadas para um chão sem fundo.

Dentre a cimeira parte pouco resta,
Quase tudo passado da medida.
A vida não foi luto, nem foi festa,
Como não foi também toda perdida.

A derradeira areia está bem perto
E meu último passo bem à vista.
O canto continua no deserto,
Sem saber de seu fim quant’inda dista.

Neste tempo renovo um só compasso,
Que formatou, na luta, meu espaço.


Jaguariúna, 01/05/2009.
Ives Gandra

Praia


Peixes, cardumes,
Ondas, queixumes,
Verão.
Belas morenas
Tardes serenas
Paixão.

Mares profundos,
Olhos bem fundos,
Tristeza.
Pernas divinas,
Lindas meninas,
Beleza.

Beijos, lamentos
Soltos aos ventos
Apenas.
Sangue nas veias
Brancas areias
Amenas.


Santos, outubro 1949 (14 anos).
Ives Gandra

CICATRIZES DO TEMPO


Cicatrizes do tempo formam rugas,
Desfigurando seres pela vida.
Por mais que se vislumbrem novas fugas,
Haverá sempre o dia da partida.

As almas, muitas vezes, ficam nuas,
Descortinando assim tais cicatrizes,
Contorcidas nos troncos e nas ruas
Dos abismos sem fim e sem matrizes.

Não se limpam da pele as rudes marcas,
Mas podem se limpar tatuagens d’alma,
Tornando as tristes nódoas, nódoas parcas,
Na busca da verdade, eterna e calma.

Quem luta, na existência, por ser forte,
Liberdade terá na sua morte.

Jaguariúna, 20/11/08.
Ives Gandra

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

BOEMIA

BOEMIA

Um raio de sol
surpreende à luz da manhã
a estrela tardia.


Delores Pires
In: Voo

ESQUILO

ESQUILO

Veloz, irrequieto
saltita na melodia
do cricri dos grilos.
boemia

Delores Pires
In: Voo

MOZARTIANA

MOZARTIANA

Na essência nos fala.
Mozart sublima com arte
a vida que embala.

Delores Pires
In: Voo

FIGUEIRA

FIGUEIRA

Sombras seculares
embalam na paz e cantam
canções de ninares...

Delores Pires
In: Voo

GEADA

GEADA

Nas manhãs de frio
a paisagem, tiritando,
se veste de branco.

Delores Pires
In: Voo

BAMBU

BAMBU

Pendido, tristonho,
na touça, leve, balouça,
à pesca de um sonho...

Delores Pires
In: Voo

ESCONDE – ESCONDE

ESCONDE – ESCONDE

No azul de verão
sol e nuvem, distraídos,
brincam de esconder.

Delores Pires
In: Voo

VAGALUMES

VAGALUMES

No escuro da noite
vagam estrelas errantes
com os olhos verdes.

Delores Pires
In: Voo

ESPREITA

ESPREITA

Por cima do muro
os ramos de pessegueiro
espiam a rua.

Delores Pires
In: Voo

BAGAGEM

BAGAGEM

O vento travesso
apanha e leva consigo
a folha caída.

Delores Pires
In: O Livro dos Haicais

MOTIVO

MOTIVO

Folhas no chapéu.
Pedaços da natureza
próximos do céu.

Delores Pires
In: O Livro dos Haicais

LUNAR II

LUNAR  II

Escuro da mata.
A lua deixa no chão
respingos de prata.

Delores Pires
In: O Livro dos Haicais

LUNAR I

LUNAR  I

No tapete verde
de folhas a luz mostra
os retalhos brancos.

Delores Pires
In: O Livro dos Haicais

TRANSEUNTE

TRANSEUNTE

Com o sol a pino
ando só, sem minha sombra,
no quente verão.

Delores Pires
In: O Livro dos Haicais

TRAJETÓRIA

TRAJETÓRIA

Riozinho calmo
prossegue silente e mede
o chão palmo a palmo.

Delores Pires
In: O Livro dos Haicais

ECOLOGIA

ECOLOGIA

A fim de terdes
paz que a natureza traz
buscai-a nos verdes.

Delores Pires
In: O Livro dos Haicais

VISÃO

VISÃO

Natural tesouro
verde, paisagem amarela.
A lembrança do ouro.

Delores Pires
In: O Livro dos Haicais

LILÁS

LILÁS

No espaço nos dás
um ar serio de mistério
nas flores lilases.

Delores Pires
In: O Livro dos Haicais

CRIAÇÃO

CRIAÇÃO

 A folha cai cai.
O breve sopro tão leve
desenha o haicai.

Delores Pires
In: O Livro dos Haicais

ACENTUAÇÃO

ACENTUAÇÃO

Em torno de si
o guarda-chuva coloca
os pingos nos ii.

Delores Pires
In: O Livro dos Haicais

MARKETING

MARKETING

Ao raiar do dia
a galinha o seu produto
cantando anuncia.

Delores Pires
In: O Livro dos Haicais

VIAGEM


VIAGEM

No rio poluído
primavera tateando
carrega uma flor.


Delores Pires
In: O Livro dos Haicais

ESPERANÇA

ESPERANÇA

Vacas bafejando
à cata de folhas verdes
na relva gelada.

Delores Pires
In: O Livro dos Haicais

DESPERTAR

DESPERTAR

Manhã manhãzinha.
O galo, na laranjeira,
desperta o seu dono.

Delores Pires
In: O Livro dos Haicais

DEDICATÓRIA

DEDICATÓRIA

E fugiu o dia.
A estrela trouxe com ela
noite de poesia.

Delores Pires
In: O Livro dos Haicais