segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

MAR DESCONHECIDO



Sinto viver em mim um mar ignoto,
E ouço, nas horas calmas e serenas,
As águas que murmuram, como em prece,
Estranhas orações intraduzíveis.

Ouço também, do mar desconhecido,
Nos instantes inquietos e terríveis,
Dos ventos o guaiar desesperado
E os soluços das ondas agoniadas.

Sinto viver em mim um mar de sombras,
Mas tão rico de vida e de harmonias,
Que dele sei nascer a misteriosa

Música, que se espalha nos meus versos,
Essa música errante como os ventos,
Cujas asas no mar geram tormentas.


Augusto Frederico Schmidt
In: 'Um século de poesia'

Ausências



Chegará o dia de entrar
na casa
olhar as cadeiras,
e mesas

vazias,

Observar o mar do silêncio
que arruma a casa,

os ecos,

dos que deixaram
a casa.

Chegará o dia de ver
na casa
o espaço vazio
das janelas
o mato adentrando a porta...


E tudo.

Esta marcha de ausências,
o vazio
sílaba secreta
de certo norte
caberá na bússola de
dentro dos olhos.

Georgio Rios
(Bahia)

"SONETO"



Eu vim ao mundo para ter saudade…
Ter saudade é sentir a natureza
Sob a etérea e inefável claridade
Do crepúsculo errante da tristeza.

Um vago enlevo espiritual invade
Minha imaginação que, de surpresa,
Céus distantes, memórias de outra idade
Revive, então, num sonho de pureza.

Sinto que essa emoção indefinida,
Povoando de visões meus pensamentos,
Provém da eterna comunhão da vida

É a alma das cousas que se evola, em calma,
Da vida conjugal dos elementos
E se reflete dentro de minha alma.


-RAUL DE LEONI-
(in Sob Outros Céus)

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Melancolia



À volta todas as rosas eram vermelhas
A hera era preta.

Querida, assim com um só mover de cabeça teu,
Todos os meus velhos desesperos despertarão!

Demasiado azul, demasiado terno era o céu,
O ar demasiado suave, demasiado verde o mar.

Eu receio sempre, e eu não sei porquê,
Um lamentável afastamento de ti.
Eu estou cansado dos ramos de azevinho
E enfadado do alegre espinheiro

De todos os infindáveis caminhos do país;
De tudo, meu Deus! exceto de ti.


Ernest Dowson
(England -2 August 1867 + 23 February 1900)

sábado, 26 de setembro de 2009

MI ALMA (Paralela)



Bajo la curva de la noche, fúnebre,
sobre la arena del desierto, cálida,
se conturba la mente del proscripto,
su pie desnudo, vacilante, marcha;
y allá en la curva fúnebre del cielo
la estrella solitaria;
y allá, sobre las cálidas arenas,
¡el oasis y el agua!
Bajo la curva del dolor, fatídica,
sobre el desierto de mi vida, trágica,
mi acongojada mente se conturba,
mi vacilante pie se despedaza;
y allá, en la curva del dolor, siniestra,
la luz de la esperanza;
y allá sobre el desierto de mi vida,
¡la resonante multitud de mi alma!.


Pedro Bonifacio Palacios
(Almafuerte)

'Procurando estrelas'



Faz frio! vou em busca de agasalho,
oh! lágrimas... (e luto por contê-las!)
olhos abertos, procurando estrelas,
sigo, e na estrada, minha mágoa espalho.

As flores choram lágrimas de orvalho,
lágrimas vivas, trêmulas e, ao vê-las,
vejo toda a criação chorando pelas
folhas a balançar em cada galho.

Sigo tristonho... Baila pelo espaço
o lamento das cousas que ficaram
sem um amor, sequer, para entendê-las.

Deixo um pouco de dor por onde passo...
Paro. Olho o céu. As mágoas debandaram
ante o esplendor do riso das estrelas!


Lago Burnett
In 'Estrela do Céu Perdido', l949