O pássaro do tempo solta o vôo
Existencial em todos os quadrantes,
Abrindo em leque risos e amarguras,
Na mesma escala para o amor e o ódio.
De curvo vôo como o do curiango
Ou de amplidão nas asas do condor
Traça no céu mensagens misteriosas
Desafiando a astúcia da razão.
Nesse vôo inconstante uma ironia:
Para prazer ou dor um só remédio,
O da mudança, ou a morte pelo tédio.
Até a alegria afinal nos cansa,
Mas o que deveras põe-se em calafrio
É o tempo insonso adiáforo vazio.
Miguel Reale
in 'Sonetos da verdade'
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