sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

LIKEWISE IN HEAVENS



A flowerpot contour
ethereal rosebuds,
a piano quivering
in dreamlike keys:
a solitary, unrequited nocturne
or a gentle romance,
a serenade played by two.
Likewise in heavens,
corpse brides and grooms,
unredeemable drankards
of love,
waltzing in alcoves of mist
under long moonlit memories
or spectral candlelight flicks.

(Fernando Campanella)

Metáfora


(Fptp by Antônio Carlos Januário)

Já não tento reter do dia
a luz que por exata concede
a chama alquímica dos amantes
a doçura de pétalas breves.
O tempo tem o galope das Fúrias
ventos que jamais enternecem.
Melhor correr da memória o labirinto,
drenar os aquíferos fundos
e aguardar: o que restar
será na noite a forma intáctil,
o espectro redivivo.
(Mais no mundo me vivo,
mais no comando de sombras me esmero.)
Deus conceda que me baste
este último consolo de náufrago,
a metáfora,
pétala incorpórea com que me visto.


F.Campanella
(Julho de 2006)

Vias Errantes


(Photo by Fernando Campanella)


Tarde de maio,
eu sou o que vaga
espírito que viaja
morada de vento,
abrigo de nada.
Eu sou o que noite deserda
e em palhas de sombras
anseia seu ninho.
Trilho o futuro
- meu ser é radiotelescópio-
mas por estas vias errantes
sempre a mim mesmo eu volto.
De luz a sede intransponível,
nada do que toco me veste.
Só meu caminho é arrimo.
O filho do homem
tem a ilusão do destino.


Fernando Campanella

Decifra-me


(Foto by Fernando Campanella)

A lua é um criptograma.
Decifra-me, diz ela
à minha metade analítica
E trôpega.
À minha outra porção,
Mais precavida
Ante o mistério das coisas,
Ela sussurrra-me apenas:
bebe de meu vinho e sonha.


Fernando Campanella

Jogo


(Foto By Fernando Campanella)


Há os que buscam continentes,
eu fico,
é bem menos sólida
a terra de que me sustento.
(Ah, a densidade dos anjos,
os imprecisos firmamentos.)

Há os que apostam em veleiros
e desafiam os ventos,
eu passo.

Eu do mar vou abrindo os búzios
que a fúria cega às vezes consente.

Meu lance
é a configuração do silêncio.


Fernando Campanella

Ode às manhãs transfiguradas


(Foto by Fernando Campanella)

Sim,

Outras são as manhãs
Após as chuvas
Em doces gotas de amêndoas
E emblemáticos suores de uvas....

Manhãs em hortas regadas,
Frescor de sumos, feiras livres
-‘Salsa, sálvia, rosmaninho, tomilho’ -
Respingos de amor em refrões medievais...

Sedosas manhãs molhadas, especiarias mais raras,
Cravos da Índia, orquídeas do Nepal...

Poção mágica, ervas medicinais....

Cromáticas manhãs lavadas:
Verde- ingás, vermelho-pintangas
E tantas mais cores que bailam
No pomar de líquidas miçangas...

Límpidas crisálidas, abelhas em trânsito,
Lavandas....

Pássaros cantantes...

E ainda turíbulos, aromas de incenso,
Antigas lágrimas de santas semanas
Nos missais....

Bendito, o fruto de vosso ventre,
Manhãs transfiguradas,
A germinar, a se abrir
No úmido jardim das palavras.


(Fernando Campanella, 17.09.2008)

Cânticos


(Foto by Fernando Campanella)

Certos cantares são quase eternos,
nascem de outros que sabem a outros
que beberam às fontes,
aos fundamentos do ar.

As trazemos do berço,
Ou de antes dos salmos,
certas canções,
anônimas, apócrifas,
acéfalas, só corações pulsantes
de lágrimas e pétalas.

Priscos diamantes -
Cantigas, idílios ou cânticos -
certos cantares seriam eternos
(Os anjos não considerados)
não fosse o princípio,
e desde o princípio
é então o verbo: amar.

(Fernando Campanella)

Ao Vento


(Foto by Fernando Campanella)

Fica comigo, mas não posso pedir ao vento
que sopre ao alcance de meu ouvido,
ou à terra que abençoe nossos longos segredos
- nem mesmo da luz querer ouso
que se demore em meu abrigo.
Quando os dados lançados e até meu silêncio
contra toda certeza parecem que conspiram
- e caso os dedos do mundo
em suas unhas recurvas nos firam -
releva, e fica comigo, os anjos sabem mais alto
daquilo em que insisto, do que preciso.

Fernando Campanella

Ofício



Naturezas de borboleta
forjam casulos em silêncio.
Em segredo, universos tramam
O absoluto florescimento.

Tanta beleza em surdina
que já não se conta o tempo.

O ferreiro tece o concreto
em diurno alheamento.

Também meu ofício de arte
por estas vias se encorpa.
Tanta mobilidade, tantas formas
me saíram do bolso
assim como do nada
no mais desprovido silêncio.

(Fernando Campanella)

À noite sonhamos


(Fotografia de Antônio Carlos Januário -MG- Brasil)

À noite, seguimos descuidados,
a vida é solta, árvores nítidas de aromas,
flores tão lágrimas de orvalho.

À noite sonhamos em um céu de metáforas
onde a mínima lua
é unha que arrepia segredos
estrelas são hangares pequeninos -
a sombra, um dócil lobo que nos chama.

À noite, rompemos degredos,
volvemos aos ninhos,
somos meninos -

infância distraída de seus medos.


Fernando Campanella

Togetherness


[Photo by Antônio Carlos Januario- MG- Brazil]

Because I’ve felt life
I’ve I feared death.
Poor trifling me:
hand in hand goes
what I taste
of all might and fragility.
Side by side
shadow entrances light -
oblivion always pleading
for sound -
and the other way,
the other way round.

(Fernando Campanella)

(Clovers and lilacs white, Photomontage of Regina Helena)

(Anima interdicta
in saecula seculorum)

I felt you come blind-folded
into the flanks of my night
bringing me a handful of buds:
roses, clovers and lilacs white.

But, o, poetry,
let’s seal it a secret -
all my captive birds fly
by your passing I saw

though men shall not be granted
the solace of flowers
in our unscripted stone-aged law.


Fernando Campanella

Retrato


(Photo by Fernando Campanella)

Fenecer como as parras
e as flores
fender o riso de encobertos
intraduzíveis amores -

o coração entre o lume brando
e a usura
ralentando
'pero sin perder la ternura'.

Fernando Campanella

RETRATO

Fenecer como las parras
y las flores
hender la risa de encubiertos
intraducibles amores -
el corazón entre el lumbre blando
y la usura
arralando
'pero sin perder la ternura'.

Fernando Campanella

D'Oiro


(Photography by Fernando Campanella)


Antes que o amor entristeça
e a sombra nos recolha em seus laços,
passeemos, as mãos dadas, Lídia,
pelo ouro destes jardins.


Fernando Campanella

TRAJETÓRIA


(foto by Fernando Campanella)

Não proclames tuas palavras
quando a força de uma divina mão
te arrebatar para um centro
invisível e imóvel.

Como o mistério nos campos
de uma semente vingada
serás lançado a uma solidão imensa
mas não a profanes com impropérios
de teus conhecidos fantasmas.
Pode já não ser a angústia,
pode já não ser o tédio
se a alma assume, atemporal, a trajetória.

Fernando Campanella

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

ODE: VISLUMBRES DA IMORTALIDADE VINDOS DA PRIMEIRA INFÂNCIA



V


Nosso nascimento não é senão sonho e esquecimento:
A alma que conosco se ergue, Estrela de nossa vida,
Teve poente noutro recanto
E vem de longe imbuída:
Não de vez esquecida,
Nem totalmente despida,
Arrastando nuvens de glória, viemos a nos originar
De Deus, que é o nosso lar:
O céu nos envolve na infância!
As trevas do cárcere começam a encerrar
O Menino que cresce;
Mas Ele contempla a luz de onde ela vem brilhar,
A vê em sua alegria que resplandece;
O Jovem, ao se afastar deste nascente com certeza,
Trafega, ainda sendo o Sacerdote da Natureza,
É acompanhado em sua jornada
Pela visão encantada;
Por fim, o Homem percebe que a sua vida perece,
E na luz de um dia comum desvanece.

William Wordsworth

Sublime Sentimento


(Foto by Fernando Campanella)

“Senti
Uma presença que me enche da alegria
Que vem da elevação do pensamento, um sublime
Senso de uma profunda integração
Que residia na luz dos sóis poentes
Por sobre os mares, e pelo ar vibrante
E o céu azul, e pela mente do homem
- Uma vibração e um espírito, que movem
Tudo que pensa, e tudo o que é pensado
E interpenetra todas as coisas”


William Wordsworth.
- Cf. “O Céu da Mente”, de Timothy
Ferris, p.61, Ed. Campus, 1997.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Ode on Intimations of Immortality from Recollections of Early Childhood



III

Now, while the birds thus sing a joyous song,
And while the young lambs bound
As to the tabor's sound,
To me alone there came a thought of grief:
A timely utterance gave that thought relief,
And I again am strong.
The cataracts blow their trumpets from the steep,--
No more shall grief of mine the season wrong:
I hear the echoes through the mountains throng.
The winds come to me from the fields of sleep,
And all the earth is gay;
Land and sea
Give themselves up to jollity,
And with the heart of May
Doth every beast keep holiday;--
Thou child of joy,
Shout round me, let me hear thy shouts, thou happy
Shepherd-boy!

William Wordsworth
(1770-1850 / Cumberland / England)